novembro 25, 2025
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O que a BlackRock Realmente Pensa Sobre o Bitcoin e Por Que Não o Enxerga Como Moeda de Uso Cotidiano

A visão da BlackRock sobre o Bitcoin é clara e estratégica. Longe de tratar o ativo digital como uma moeda para comprar café ou pagar contas do dia a dia, aquela gigante de gestão de ativos foca no papel do Bitcoin como uma reserva de valor — uma espécie de “ouro digital”. Os investidores institucionais que trabalham com a BlackRock preferem ver esse criptoativo como uma proteção patrimonial a longo prazo, não como uma infraestrutura de pagamento para uso massivo imediato.

Um ponto central dessa abordagem é a percepção dos riscos técnicos. Segundo executivos da BlackRock, existem desafios importantes para que o Bitcoin funcione de forma eficiente como rede global de pagamentos. A escalabilidade é uma barreira, e soluções como a Lightning Network ou outras camadas 2 ainda não se mostram plenamente viáveis para sustentar um volume muito grande de transações econômicas. Esse tipo de limitação técnica gera incerteza econômica e influencia fortemente a decisão de investimento: apostar hoje para pagamentos significa financiar um futuro especulativo.

Além disso, há uma questão de modelo de negócio. Para a BlackRock, o uso do Bitcoin nos pagamentos seria um bônus opcional, não a tese central de investimento. Em vez de construir a carteira de clientes com base na expectativa de que todos vão usar Bitcoin para transações, a gestora foca nos fluxos que vêm justamente de quem enxerga no cripto um hedge ou um ativo descorrelacionado dos mercados tradicionais. Essa abordagem pragmática reduz a exposição ao risco de uma adoção em massa que ainda parece distante.

Enquanto isso, a BlackRock observa com atenção o crescimento das stablecoins. Esses ativos lastreados em moedas tradicionais já conquistaram grande espaço como solução de transferência de valor eficiente e estável. De acordo com a BlackRock, o ajuste entre produto e mercado nas stablecoins é muito mais maduro para pagamentos: elas permitem mover dinheiro com rapidez e a baixo custo, sem a volatilidade típica do Bitcoin. Para muitos atores — fintechs, empresas e plataformas —, usar stablecoins é mais atraente do que arriscar-se a depender da cotação volátil de um cripto.

Não significa, contudo, que a BlackRock descarte totalmente a possibilidade de o Bitcoin evoluir para pagamentos internacionais no futuro. Executivos da empresa reconhecem essa possibilidade como especulativa, mas real. Em mercados emergentes, por exemplo, onde taxas bancárias são altas, infraestrutura local é fraca e controles de capital existem, o Bitcoin ainda pode ter papel competitivo nas remessas. Porém, mesmo nesse cenário, a gestora não o considera a solução definitiva agora.

Do ponto de vista do investidor, a mensagem da BlackRock é estratégica: a narrativa principal é a de proteção patrimonial, não de meio de pagamento. Quem investe via essa rota institucional deve ter em mente que o uso “transacional” do Bitcoin é uma vantagem adicional, e não a razão primordial para alocar capital nele. Esse posicionamento molda a forma como a empresa estrutura seus produtos cripto, priorizando o longo prazo e a estabilidade institucional.

Além disso, a cautela da BlackRock reflete uma visão de maturidade de mercado. Ao não empurrar a ideia de que o Bitcoin será usado por todos para pagar tudo, a gestora evita riscos regulatórios, operacionais e macrossistêmicos. É uma estratégia que privilegia a sustentabilidade e o consenso institucional, em vez de um ideal utópico de adoção global imediata.

Em síntese, a estratégia da BlackRock revela muito sobre o estágio atual do Bitcoin no ecossistema financeiro: é tratado como ativo de reserva, mais do que como moeda de consumo. As limitações técnicas, as alternativas mais estáveis e eficientes — como as stablecoins — e o foco em investidores institucionais reforçam que, na visão dessa grande gestora, a função mais relevante do Bitcoin permanece sendo a de seguro contra incertezas macroeconômicas, não a de substituto do dinheiro tradicional no dia a dia.

Autor: Bruna Coutov

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